Projeto Amamentar - Carol
Carol e Luíza
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Quem me vê assim com Luísa em amamentação prolongada (após 2 anos) podia jurar que isso foi algo bem natural. Até poderia ser, considerando a quantidade de cursos, leituras e estudos que fiz na área da doulagem, dentre eles um de doula pós-parto, que me permitiu ter a experiência de acompanhar várias mulheres e seus bebês, apoiando a amamentação em livre demanda. O porém é que eu vim de uma primeira experiência de maternagem em que a preparação para o parto foi inversamente proporcional à do puerpério, de modo que, além das dificuldades iniciais envolvendo mamadas, eu não fiz escolhas bem informadas, levando a um desmame precoce de Cecília com 1 ano de idade, provavelmente por confusão de bicos (usava chupeta e mamadeira), e do qual só tomei consciência da causa meses depois (justamente nos cursos!).
Quando Luísa nasceu, precisei de apoio e ajuda nos primeiros dias e, como deu certo, achei que seria muito mais simples. O que eu não havia aprendido (ainda) é que bebês não seguem uma regra específica, e Luísa demanda(va) muito! Mas, como a escolha foi a de não oferecer bicos artificiais, os meus ficaram disponíveis pra ela, assim como todo o meu ser e o meu colo. Quando dei por mim, estava dentro de uma pandemia, com uma bebê que passou a fazer rádio-teta no outro bico, plugada dia e noite, e que de repente já falava e tinha colocado nome nos meus seios: o pepê. Aliás, eu mal pisquei e ela aprendeu a contar e sabe dizer que são “doish pepê". Amamentar um bebê que está virando criança é uma das maiores ambivalências que já vivenciei: se, por um lado, demora a vir mais independência da mulher que ainda habita em mim, por outro, é um dos atos de maior conexão que desenvolvi com minhas filhas, sobretudo com Luísa, pelo contexto de primeiros 1000 dias dela, boa parte pandêmicos.
Agora, vacinada contra a covid-19, dar o peito é um ato de esperança que sai em forma de muito esforço físico e emocional. Leite humano pode até não ser amor líquido, mas amamentar, quando muitos olhares (e muitas vozes) sugerem que já está na hora de parar, é o maior ato de amor e de resistência que posso oferecer à minha filha. Se eu me arrependo de ter dado chupeta/mamadeira a Cecília? Acredito que não, pois sei que fiz o melhor que pude com as informações que tinha. Além disso, sendo mãe solo desde antes de ela nascer, eu acho que só sobrevivi com a ajuda desses bicos. Se eu me arrependo de não ter dado chupeta a Luísa? Às vezes, sim, mas na maior parte do tempo, não! Amamentação pode não ser romântica o tempo todo, mas certamente esse registro fotográfico e a pintura corporal captam bem a essência: um ato bonito, que deveria ser incentivado pelo tempo que as famílias escolhessem, e forte como o ipê, essa árvore-símbolo de resistência em tempos secos e difíceis. Que todos os meses sejam como agosto, o mês do ipê amarelo no cerrado e da promoção do aleitamento humano em todo o mundo. Viva o pepê!
Texto: Carol
Modelo Carol e Luísa